Após duas tromboses em um período de 6 meses, descobri que estava com o câncer Sarcoma de Ewing na coxa esquerda.  Fiz um total de 17 sessões de quimioterapia e 30 sessões de radioterapia. No período de 1ano e 6meses. Apesar da rotina intensa de tratamentos, eu conseguia viver minha vida, saía com os meus amigos, trabalhava, tentava não me limitar a continuar seguindo.Tive que me adaptar a este novo desafio. várias vezes após a quimioterapia, eu tive que me obrigar a reagir, levantar e andar, caso contrário o desânimo e a fadiga tomavam conta. Mas eu não ia dar meu braço a torcer.

Eu terminei o tratamento em julho de 2016, voltei a minha vida normal, aproveitei cada momento do ano de 2017. Vivi e como vivi! Me senti um passarinho voando em liberdade, e como voei alto!

O ano de 2018 já chegou trazendo surpresas, e que surpresas. Em janeiro descobri que estava com metástase no pulmão, em fevereiro fiz uma cirurgia bem simples de ressecção de pulmão por vídeo para retirada da metástase. Foi um processo bem simples e não foi preciso tratamento. Pensei: “Ufa foi só um susto pra manter a atenção!”

Passou mais um tempo e logo senti algo diferente na minha coxa novamente, algo que para mim já não era desconhecido. Eu sabia com o que estava lidando, sabia o que estava se manifestando em meu corpo, que alto relevo era aquele em meu membro. Sim, eu sabia, podia sentir todo aquele peso novamente e quando senti, automaticamente já liguei a doença e pensei: "De novo nãaao!".

Logo fui nos médicos e os exames mostravam que o tumor havia retornado. Quando a médica me disse com todas as palavras que a única solução possível seria a amputação, eu meio que já tinha sido "preparada" para receber tal notícia, pois meus médicos sempre falaram dessa hipótese caso houvesse recidiva da doença, mas mesmo que eu já soubesse, jamais estamos preparados para ouvir algo assim. O medo já morava lá no fundo, porém mantive a cabeça erguida, Deus me sustentou e eu estava disposta a correr contra o tempo para resolver o quanto antes essa situação. Eu sempre tento visualizar o lado bom das coisas.  continuei determinada, pois pensava “se por um lado vou ter que perder uma parte de mim, por outro, vou em busca de uma cura completa.”

Quando falamos em amputação, não é algo fácil de lidar. É como se a ficha não tivesse caído totalmente. Medo sempre existe principalmente do novo, mas a minha fé e vontade de viver são muito maiores do que qualquer dúvida ou medo que os obstáculos da vida.

E para não perder tempo, eu logo comecei a tomar as providências para me adaptar a esse novo desafio que estava por vir, criei uma campanha “caminha é preciso” fiz uma Vakinha online para arrecadar fundos que me ajudasse a comprar uma prótese e poder dar continuidade a minha caminhada da vida. Que só estava apenas começando! 

Eu tenho a plena certeza que Deus jamais dá um fardo para um filho que não consiga carregar. Eu já escutei muito isso e sei que soa meio clichê, mas é muito verdade.

Por mais que a caminhada tenha sido dolorosa e nada fácil, Deus tem preparado o melhor sempre, me rodeando de anjos pra dividir esse peso e fazer com que o momento se torne mais leve me cercando de amor. 

Eu pedi muito a Deus que eu conseguisse enxergar essa fase dolorida com o coração, que tudo isso que me aconteceu fosse para fortalecer a minha alma e tornar minha fé ainda mais inabalável. A meta sempre foi sair dessa tempestade mais evoluída e ainda mais apaixonada pela vida. Acredito que por isso que não baixei a cabeça, não desanimei ou murmurei em qualquer momento, porque de verdade eu só queria me livrar logo desse mal, aprender a me adaptar ao novo e concluir esse novo desafio da vida e dar inicio a esse novo ciclo. Poder viver como o passarinho livre que descobri que há dentro de mim. Talvez seja esse o segredo do sorriso não ter saído do meu rosto e esperança refletir em meus olhos, é que minha sede de voar é maior que qualquer medo possível, é que o que eu trago no meu interior é mais valioso do que o que meu físico pode aparentar.